sexta-feira, 25 de setembro de 2015

gêiseres cuspindo água do chão, lama borbulhando do solo, alces e nascentes esverdeadas: Yellowstone



8 e 9 de julho de 2015



Dia de muitas coisas novas para nós: mud pots, geisers cuspindo água do chão, cavernas com barulho de panela de pressão. Vimo até um elk (alce) gigante =)

Hoje acordamos as 5 da manhã para tentar arranjar um camping! Esse parque está uma loucura porque é férias e anda bem difícil achar um lugar para ficar dentro do camping. É claro que sempre que dá nós preferimos ficar em uma floresta nacional de graça e mais sossegado, mas esse parque é grande demais, então o tempo e o combustível que se gasta até chegar num lugar que ainda não vimos dentro do parque acaba não valendo a pena ficar fora do parque.

Dentro do parque, os campings se comunicam e um avisa o outro quando os demais campings já encheram. Ontem, às 6 da manhã todos os campings estavam cheios. Isso não fazia sentido nenhum para nós.. como um camping pode estar cheio as 6 da manhã, se o check-out é as 11:00!? De qualquer forma, seguimos os conselhos dos atendentes e hoje decidimos acordar as 5 da manhã e tentar achar um lugar vazio em um camping dentro parque, já que dirigir tanto desnecessariamente é cansativo. Claro que demoramos vendo alce, pegando bisão na pista, tirando foto da névoa da manhã, e no fim, chegamos tarde e não achamos camping hehehe.

Á noite fomos para a saída oeste para achar internet (que também não funciona dentro do parque) e um lugar para ficar. Os campings estavam variando entre 40 e 60 dólares a noite, um absurdo na nossa opinião. Perguntei no centro de informações turísticas (que era a câmara de comércio da cidade) sobre o dispersive camping, que como eu mencionei a alguns posts atrás, é gratuito é para nós está ótimo, porque temos tudo de que precisamos no Barnabé.

A mulher do centro de informações turísticas nos informou que ali não tinha, porque a cidade já oferecia opções baratas de hotéis e campings. Tá bom então né... se não tem, paciência. Na época ainda não sabíamos que podíamos dormir em qualquer floresta nacional. Seguimos o mapa que ela nos deu: o primeiro lugar estava cheio, para passar no segundo camping tínhamos que passar por 6km de estrada de terra do tipo "costelinha", que treme o carro todo. Achamos um absurdo ter que pegar uma estrada ruim daquela. Ai eu virei o mapa que a mulher tinha me dado. Que va**!! estava explicitamente relacionando 3 dispersive campings e como chegar lá... que raiva...

pelo menos acampamos de graça, na beira de um lago no fim da noite =)

A vantagem de acordar cedo: vimos um Elk (alce) bem chifrudo! Esses bichos normalmente aparecem mais de manhã e no fim da tarde, quando não é tão quente. Esses chifres ai eles perdem todo ano, e todo ano os chifres crescem outra vez =)
N'évoa da manhã


Artisan Paint Pots
Artisan Paint Pots: essa coisa coisa preta meio nojenta e cheio de bolhas é uma mudpot. Mudpots são o resultado de rochas dissolvidas por ácido sulfúrico, que formam a lama e argila. O sulfidro de hidrogênio em gás forma as bolhas e produzem um cheiro de chulé com ovo podre. 
Artisan Paint Pots: Isso ai é uma bolha de lama estourando em outra mudpot. A lama é mais aguada ou espessa dependendo da quantidade de chuva.

Sulphur Caldron: esse é  um "caldeirão cheio de" ácido sulfúrico. Ele é quase tão ácido quanto ácido de bateria, 10 vezes mais ácido que suco de limão. O pH dessa poça que cospe lama é 1! (o pH varia de 0 a 14, sendo 0 o mais ácido e 14 o mais básico). Ainda assim, bilhões de "thermoacidophiles", bactérias que amam viver em ambientes ácidos e quentes, vivem aqui e são responsáveis por converter o sulfido de hidrogênio em ácido sulfúrico. 

Sulphur Caldron: mais um mudpot modificando a paisagem..

Dragon's Mouth: pensa numa caverna com água que solta fumaça e faz barulho de uma panela de pressão...

no dia seguinte cedo, mais névoa...
Norris basin: aqui pegamos uma trilha guiada com um dos guardas-florestais (park rangers). Eu recomendo bastante esse tipo de programa porque assim você aprende coisas que você nunca aprenderia só passando pelo lugar, e melhor ainda, está incluso no valor que você pagou para entrar no parque! Em parques grandes sempre há um jornalzinho com a programação listando o horário, o local e o tema. 


Norris basin é um dos lugares com a água subterrânea mais ácida e mais quente de todas as áreas hidrotermais do Yellowstone, e também é o lugar com mais terremotos e explosões violentas de água . Muitas nascentes e fumaroles aqui possuem a temperatura maior que o ponto de ebulição da água. Aqui também é o lugar com a maior atividade sísmica do parque (pois está na junção de 3 grandes falhas). Os terremotos são os principais motivos pela qual novas nascentes, gêiseres e fumaroles aparecem, e também pelo qual muitos deles de repente ficam dormentes. Os terremotos acontecem nessa área o tempo todo, mas eles não são fortes o suficiente para serem sentidos por nós na superfície, mas são suficientemente fortes para alterar as características dessas fontes hidrotermais: nascentes se transformam em funaroles, ou geiseres viram nascentes, ou elas simplesmente param de jorrar água, ou um novo geiser pode surgir...tudo pode acontecer por aqui =)

Norris basin, Crater Spring.

Norris basin, Emerald Spring.

Norris Basin, Emerald Spring. A cor de uma hot spring  (spring = nascente) em geral indica a presença de minerais. Em uma nascente como a da foto acima, a água está absorvendo todas as cores exceto pela cor azul, que é refletida para os nossos olhos. Aqui nessa Emerald Spring, outro fator contribui para essa cor tão bonita que nos faz ter vontade de entrar nessa água (até nos lembramos de quão super quente ela é..): depósitos de enxofre no fundo. A cor amarela do enxofre se combina com o azul que é refletido, fazendo com que essa nascente de 8 metros de profundidade tenha essa cor esverdeada

Norris basin, Porcelain basin: um lugar quente e ácido, onde o ferro e o arsênio afloram.

Norris basin, Porcelain basin: esses ai em destaques são gêisers. Dá para ver eles em ação nesse vídeo que fizemos:


Norris basin, Porcelain basin

Norris basin, Porcelain basin

Norris basin, Porcelain basin

Norris basin, Porcelain basin
Norris basin, Steamboat Geyser: Pegamos essa semi-erupção deste gêiser, mas não tivemos a sorte de ver sua erupção de verdade. Quando esse gêiser expele água de verdade, se vê uma coluna de água escandante com 120 metros de altura por 24 horas! Isso faz desse gêiser um dos mais altos gêiseres ativos do mundo! Deve ser o máximo ver isso, mas esse gêiser é completamente imprevisível, a próxima erupção pode ocorrer em 4 dias ou 50 anos...

Norris Basin, Veteran Geyser

Norris basin, Vixen Geyser: nosso primeiro gêiser que realmente entrou em erupção de verdade, com água indo alto!

Norris basin, Vixen Geyser

Norris basin, puff n stuff geiser.

mais um pouco do que vimos lá se você ainda tiver curiosidade:










sexta-feira, 11 de setembro de 2015

cachoeira de 93 metros, o maior canyon do Yellowstone e mais bisões

7 e 8 de julho de 2015



Dia de descer 300 degraus de escada para ver uma cachoeira gigante de baixo e dia também de fazer uma trilha de 16 km até o leito do rio Yellowstone.

Tower Falls

7 Mile Hole Trail: Cachoeira no início da trilha cortando o paredão
7 Mile Hole Trail: a parte boa de fazer uma trilha relativamente longa, é poder ver coisas interessantes sem outros turistas enchendo o saco por perto =)


Pensa num cheiro de ovo podre com chulé...
7 Mile Hole Trail: detalhe de onde a água chega à superfície
Pedro, olha as trufas de Tucumã me dando energia para continuar =)

Mud pot: um dia saía lama desse buraco, e a lama fez essas bordas...

7 Mile Hole Trail: essa trilha foi uma das mais chatas que já fizemos. É longa, muitos trechos retos no meio de árvores bem iguais, alguns trechos com subida íngreme e pedras soltas, e especialmente, com centenas de pernilongos nos picando. Contamos ter matado mais de 50 em cada um de nós no intervalo de 1 hora, quando decidimos competir para ver quem matava mais pernilongos. Mas encontramos 2 pessoas acampando por lá e mais 3 começando a trilha quando já estávamos quase chegando para passar a noite por lá. Na foto, como se faz para evitar que animais, especialmente ursos, roubem sua comida: as mochilas são amaradas no alto com cordas.

7 Mile Hole Trail: objetivo final era esse: chegar no Rio Yellowstone. Reparem nas cores da parede do canyon. Por milhares de anos, as atividades hidrotermais nessa área vem alterando a química das rochas, e alterando sua coloração para amarelo, vermelho, branco e  rosa.
Flores do campo =)
povo parando para ver urso! mas quando chegamos eles já tinham ido embora =(
Lower Falls: 300 degraus descendo ...  e depois subindo =P

Lower Falls: ...e a vista era essa 
Lower Falls: E achamos até uma fotógrafa para tirar uma foto nossa =)

Grand Canyon of Yellowstone: A parte de cima da cachoeira, lá no fundo, é formada por uma formação rochosa mais resistente a erosão. A parte que forma o canyon (Lower Falls) é composto por rochas sedimentares mais suscetíveis à erosão e que também tiveram atividades hidrotermais mais intensas, que alteram algumas propriedades das rochas. Por isso a água conseguiu esculpir esse canyon ao longo dos milhões de anos, mas não tanto na parte superior da cachoeira. 

Lower Falls: detalhe para a água passando pelo canyon e a característica "fumacinha", indicando atividade hidrotermal. As atividades hidrotermais são responsáveis por alterar e enfraquecer o rhyolite(esse tipo de rocha da foto) e assim, catalisar os processos erosivos do rio.

Lower Falls: 93 metros de queda d'água
ops... 
Esses bisões não estão nem aí para nós, mas recomenda-se ficar dentro do carro ou manter a distância de 23 metros para que eles não nos vejam invadindo o espaço deles. Também é bom manter distância porque esse bicho grande pode correr a 55km/hora, ou seja, se ele implicar com você, esses chifres bonitinhos vão estar fazendo você dar  algumas cambalhotas no ar...
mais bisões...
e um filhote de bisão =)

Estrada para West Entrance



terça-feira, 8 de setembro de 2015

bisões, pronghorns, e como dormir de graça nos USA!

6 e 7 de julho de 2015


Dia de ver animais diferentes cruzando a pista na nossa frente! bisões, ursos e pronghorns!

Hoje também foi um inferno de achar camping dentro do parque. Dos 12 campgrounds do Yellowstone, todos estavam cheios. Chegamos no início de julho, época em que todos parecem querer aproveitar as férias de verão das crianças. Resultado: campings cheios e os poucos lugares dentro do parque que permitem acessar a internet (a 5 dolares a hora) não funcionavam com a alta demanda.

Tivemos que dirigir mais de 50km para sair do parque e tentar achar um lugar para passarmos a noite. Imagino que deva acontecer com frequência de as pessoas não conseguirem camping dentro do Yellowstone (e é ilegal dormir fora da área de campings e hotéis dentro de um parque nacional), porque assim que saímos do parque, vimos uma placa dizendo que havia lugares específicos para "dispersive camping"disponíveis na cidade. Nunca tinha ouvido esse termo, mas de alguma forma concluímos que era alguma forma de passar a noite de forma barata.

Logo na saída do parque (entrada nordeste do parque), encontramos um centro de informações turísticas e perguntamos o que era esse "dispersive camping". Uma senhora muito simpática nos explicou que eram lugares disponibilizados pelo governo para dormimos de graça. O único requerimento era não dormir em barracas, e sim dentro do carro, trailler, motorhome, etc já que estamos em área de ursos.

"Dispersive Camping" é basicamente um lugar, em geral em florestas nacionais (mas aqui não era uma floresta nacional), com estradas de terra e clareiras abertas na floresta próximo à estrada simulando um camping, onde você pode estacionar e acampar. Nesses lugares não é permitido fazer fogo, mas muita gente faz mesmo assim. E normalmente esses lugares também não possuem nenhuma estrutura (mesa, banheiros,  água, etc).

Para nós um mundo novo de lugares calmos e gratuitos se abriu. Descobrimos que as florestas nacionais cobrem uma larga fatia do território americano e aqui a segurança não é um problema. Começamos a dormir na calmaria da mata, a ver céus muito estrelados e a acordamos com o sol nascendo no meio das árvores e com passarinhos cantando. Nada do barulho da cidade, nada do barulho das pessoas. Paz descreve bem a maioria das florestas nacionais em que dormimos, além é claro, de ser grátis!

Mammoth Hot Springs: e esse foi o primeiro dos bisões que vimos!
Mammoth Hot Springs:  bisões machos podem pesar até 900 quilos e as fêmeas até 500 quilos. Esse bicho grande pode correr até 55 quilômetros por hora!
Calcite Spring: essas colunas verticais foram formadas pelo rápido resfriamento da lava após uma erupção vulcânica a mais de 1 milhão de anos atrás.
Calcite Spring: a foto acima mostra um zoom das colunas verticais na parte superior esquerda do morro. Nessa foto também pode-se ver estruturas semelhantes na parte inferior do morro: são colunas causadas pelo rápido resfriamento da lava a mais de 10 milhões de anos atrás.

Lammar Valley: ótimo lugar para ver bichos. Nesse lugar vimos muitos e muitos bisões juntos, e mais tarde também vimos ursos, alces e pronghorns!
Lammar Valley: bisões bem pertinho =)

Lammar Valley: bisões cruzando a pista, fazendo barulho, e passando do ladinho do Barnabé!
Em 1800 e tanto, quando Yellowstone ainda não tinha os regulamentos e o número de guardas-florestais que tem hoje, a caça aos bisões era indiscriminada. Os caçadores não comiam sua carne, mas sim  matavam os bisões como troféus, exibindo sua cabeça. Vimos fotos de antigamente com dezenas de cabeças de bisões empilhadas uma em cima da outra. Também o exército americano, no final dos anos 1800, iniciou uma grande campanha de eliminação dos bisões em território nacional, para controlar tribos indígenas que dependiam desses animais.Chegou-se ao ponto que milhares de bisões se resumiram a apenas alguns indivíduos. No Yellowstone, havia cerca de 1000 bisões em 1872, e cerca de 24 em 1902. Com medo da extinção, o parque comprou 21 cabeças de um rebanho privado e os trouxe para Yellowstone. A população de bisões naquela época foi manejada de perto e hoje o parque conta com mais de 3000 bisões.
Bisões com seus filhotinhos.
Barnabé e os bisões
Bisões atravessando a pista e causando um belo de um transito =)
Lammar Valley: Esse ai é um pronghorn, não tenho nem ideia de qual é a tradução em português. Esse é o mamífero mais rápido da América do Norte. Graças a uma traqueia, coração e pulmões maiores, esse animal pode atingir 80 km/h!
Para completar o dia, ainda vimos 2 filhotes de urso com sua mamãe. Esses são black bears (mesmo sendo marrons).
Um exemplo de floresta que pegou fogo. Aqui eles deixam a natureza fazer sua parte: árvores caídas continuam caídas, o fogo de causas naturais é deixado queimar. O interessante aqui desse tipo de floresta (Lodgepole pine forest) é a forma como as sementes são liberadas: o cone, onde ficam as sementes (parecido com aqueles que usamos para fazer as guirlandas de natal), é coberto por uma resina que só abre com o fogo. O fogo é responsável por derreter essa resina e então liberar as sementes. Quando este tipo de floresta está madura, as árvores crescem tão juntinhas uma das outras que nenhuma outra planta consegue sobreviver. Com o fogo, criam-se áreas de mosaicos, que permitem que a luz do sol alcance o solo. As sementes da Lodgepole Pine são liberadas e encontram condições apropriadas para germinar. Uma variedade maior de plantas agora consegue crescer no solo rico em nutrientes deixado pelo fogo e servirão de alimento para outros animais. Diz-se aqui, que os incêndios naturais são essenciais para a vida na floresta, e só são controlados se forem causados pelo homem.

Uma flor diferente que se encontra por aqui...
No início do dia passamos pela Mammoth Hot Springs outra vez para conhecer o Lower Terraces, a  parte de baixo dos terraços que vimos ontem. Continuo achando esse lugar fantástico!

Mammoth Hot Springs, Lower Terraces

Mammoth Hot Springs, Lower Terraces

Mammoth Hot Springs, Lower Terraces

Mammoth Hot Springs, Lower Terraces
 E o fim do dia....

Dispersive camping: aqui cozinhamos e dormimos de graça, em um espaço próprio para isso e sem fazer nada de errado =)