domingo, 17 de maio de 2015

Oak Harbor to Hoodsports

8 e 9 de maio de 2015

Seguimos o conselho do velhinho simpático que encontramos na noite anterior e pegamos um caminho um pouco maior, mas sem subidas (eba eba!) e fomos para pegar a última balsa do nosso passeio de bicicleta. Esperamos cerca de 1 hora em um café (nossa maior fonte de internet ultimamente, junto com McDonald's, e nossa segunda maior fonte de energia elétrica para carregar os celulares e o laptop).

É impressionante como nossas necessidades básicas mudam quandos se faz uma viagem deste tipo: eu estava acostumada com internet ilimitada no meu celular e banhos longos de  meia hora, armário cheio de roupas e lavar 2 máquinas cheias de roupa por semana, separar meias e roupas íntimas do resto das roupas e fazer outra máquina em separado, ler na frente da lareira e dormir com o calorzinho nos pés, ou simplesmente, ir no banheiro de madrugada. Agora estamos aprendendo que de fato não precisamos de tanto, é realmente uma questão de comodidade e conforto, mas não posso dizer que eu era mais feliz a 2 meses atrás com muito mais do que o básico que estamos nos virando agora, muito pelo contrário. No fim das contas tudo vai para uma balança e algumas pesam mais que outras, o peso de cada coisa depende de cada um…mas é claro que mesmo com todas as coisas novas que estamos vendo, as vezes enche o saco a falta de comodidade e conforto. Posso seguramente dizer que nossa balança não pende sempre para o mesmo lado todos os dias, mesmo com os mesmos itens.

Banhos agora são de no máximo 6 minutos, contados no relógio, porque isso é o que os tokens de banho nos dá (dá para comprar mais, mas não é viável comprar tantos tokens por dia…)

A internet, com eu disse, é uma  felicidade quando entramos em um café ou entramos em um centro de informações turísticas, que geralmente oferecem WiFi gratuito, mas não ficamos horas e horas na internet com coisas que, as vezes, não valem o tempo.

Lavanderia? nossa…agora é tudo junto e tem sido a cada 10 dias…nada de carregar/ trocar de roupa tanto quanto antes. Quanto mais carregamos, mais pesados e devagar ficamos e menos coisas legais vemos, então carregamos  só o que consideramos o básico,  mas vendo os outros ciclistas, acho que estamos pelo menos 2 vezes mais pesados  e sei lá quantas vezes mais lentos.
 


As fotos a seguir foram tiradas próximas à balsa. Reparem na segunda foto, a quantidade de pássaros!

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Muito comum por aqui essas praias com muitos galhos trazidos pela maré...
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Descemos da balsa em uma cidade chamada Port Townsend. Uma cidade que cresceu muito nos anos 1880 já que todos os  navios vindos de terras estrangeiras para a área de Puget Sound tinham que parar, passar por inspeção e pagar taxas em Port Townsend, e por consequência, pegar mais passageiros e gente para trabalhar, descarregar e carregar mercadorias e novos suprimentos para a próxima viagem.

Em certo ponto, havia 1 bar para cada 75 residentes e a maior parte da renda da cidade vinha da venda de álcool. Isso porque Port Townsend era, muito frequentemente, a primeira parada depois de meses no mar. 


Em 1890, a cidade entrou em decadência após uma ferrovia não ter chegado à cidade e as embarcações passarem a ser a vapor em vez de velas, o que tirava a importância geográfica da cidade. Nessa época, a população caiu de 8000 para 2000 praticamente da noite para o dia. Em 1911, o governo americano mudou a U.S Customs Service (responsável pela imigração) para Seattle.

Em nossa percepção, achamos Port Townsend um cidadezinha pequena e simpática, com lojas muito especializadas que não combinam com uma cidade pequena: passamos por uma loja especializada  em chás, outra em temperos, outra em coisas de banho, e outra de colecionadores de livros, e de colecionadores de carros antigos, além de lojas de arte indígena e molduras. Imagino que gente de outras cidades alimentem o comércio por lá, senão não faz sentido para uma cidade em  que as lojas se concentram em 2 avenidas e 5 quadras…

Também nessa cidade havia lojas subterrâneas, era um pouco macabro, mas interessante.
 
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Barco com umas bicicletas penduradas na avenida principal de Port Townsend
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Port Townsend
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a maior parte da cidade tinha um estilo assim meio antigo

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Vimos muitos lugares para carregar carros elétricos em BC, e parece que finalmente vamos começar a ver nos USA  também! Essa é outra coisa que eu não esperava ver em uma cidade tão pequena.

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Lojas subterrâneas levemente macabras…

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para que tanto?
Mas um ponto que muda bastante em uma viagem como essa, é onde e como comer. Nós nunca gostamos muito de restaurantes, e agora que temos um limite diário para poder ficar viajando por bastante tempo, agora que não comemos em restaurantes mesmo, ainda mais que pedalando nos deixa com fome o tempo todo!

Sempre fazemos bastante comida na janta, que serve também como almoço no dia seguinte, e também fazemos lanches, que comemos ao longo do dia. Quando viajávamos antes, sempre parávamos em campings, que geralmente tem mesas, ou em algum lugar bonito e comíamos vendo uma bela vista depois de uma trilha ou algo assim. Agora ainda tentamos fazer isso, mas como gastamos muita energia pedalando, nem sempre dá para esperar tanto assim.

Conclusão: nesse dia, depois de Townsend, o Fe confundiu o nome das cidades e acabamos tendo que ir bem mais longe do que achávamos que teríamos que ir quando planejamos o dia. Em certa altura, meu estomago gritava por comida e meu mal-humor crescia com o calor e com a maldita cidade que não chegava nunca (coisas que a fome faz comigo).

Paramos em uma rua com bem pouco movimento, que tinha uma sombra ótima. Sentamos no chão (nada de esperar por uma mesa mais, muito menos uma bela vista), e começamos a comer nossos lanches, nisso, um cara muito mal-encarado, vestido como aqueles roqueiros de cabelo comprido, colete e coisas pontudas, nos perguntou muito grosseiramente o que estávamos fazendo lá. Ora que pergunta estúpida! Dois ciclistas, carregando um monte de bolsas na bike, sentados no chão comendo um sanduíche e uma banana… o que parece!? que estamos tentando assaltar a casa dele que estava do outro lado da calçada!?

Nessa altura minha impressão dos americanos não poderia ser pior, ainda mais porque vimos lixo nas rodovias quase o caminho todo nesse dia (reciclar, como em BC, de jeito nenhum!), em geral embalagens de bebibas e snacks, povo porco e mal-educado! Eu tentava dizer a mim mesma que era  aquele pedaço dos Estados Unidos, porque tenho amigos americanos que são um doce! E também já encontramos muitas pessoas maravilhosas nessa viagem..

Paramos finalmente em uma cidadezinha chamada Quicene, a uns 30 km de onde tivemos nossa experiência tão enriquecedora com o tão amável americano idiota.  Os últimos 5km até chegar no camping tiraram completamente meu mal-humor (que a comida não foi capaz de tirar dessa vez): foram 5km de descida! que delícia!
 
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Boa coisa daqui é que sempre tem campings mais baratos para quem vem de bike/ à pé. Mas esse camping foi a primeira vez que vimos eles descreverem a definição do que é a tarifa para bicicletas:"a tarifa para bicicletas é para aqueles que chegam e vão usando bicicleta, e que transportam seus suprimentos e equipamentos inteiramente por bicicleta". hahaha Engraçado, porque a diferença nesse camping entre a tarifa de bicicleta e o normal era de apenas 2 doletas! 

O camping não tinha estrutura nenhuma, e ainda tinha um cara lá para cuidar sei lá de que…lá encontramos um ciclista que veio da Alemanha para fazer esse passeio…esse sim estava leve, não carregava nem um fogãozinho nem nada e ainda nos pediu 3 fatias de pão para jantar. Demos com prazer, mas pensamos: queremos ir leves mas não tanto assim… =)

Começamos o dia seguinte com uma subida de 5 milhas para compensar os 5km de descida do dia anterior. Alguns poucos quilômetros para frente de onde ficamos  e achamos um camping estadual fechado… pelo menos em BC isso significaria que poderíamos usar o camping sem ter nenhuma estrutura (que não tínhamos no outro camping de qualquer forma), mas de graça e sem o barulho da rodovia… fizemos uma mini-trilha lá e vimos uma cachoeira =)




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No caminho para Hoodsports passamos por uma fazenda de ostras, nesse dia eles abriram as portas ao público, que pagava 10 doletas por cabeça e se permitia colher as ostras, e também ter acesso as barraquinhas de comida e à banda.  Víamos muita gente entrando com baldes e botas de chuva, então imagino que deveria ser bem barato…. nós não gostamos de ostras, então  resolvemos não  entrar [e também não queríamos gastar 20 dolares =) ]
 
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ostras comidas separavam quem pagava e quem não pagava
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uma pilha de ostras comidas ao fundo..
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e aqui são as pessoas colhendo as ostras frescas
 
Nesse dia também era um dos poucos dias em que a pesca do camarão é liberada. Resultado, muitos carros passando carregando barcos e nós pedalando nas estradas que variavam entre estradas com acostamentos mais ou menos e estradas sem acostamento nenhum. Os carros com barcos faziam um corredor de vento na gente e muitas vezes eles não estavam dando muita distância de nós. Cheguei no ponto que eu comecei a ter medo de pedalar e achar tudo feio, graças a Deus esses trechos já passaram e a tendencia é melhorar.

Passamos a noite em outro camping na beira da rodovia…  Sinto falta dos campings  canadenses, mas pelo menos aqui tem a taxa mais barata para nós. Acho que ando meio mal-humorada com as últimas condições de tempo e estrada… Para eu largar mão de ser reclamona, ainda cai bonito em uma pedra que colocaram na entrada do nosso site.
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Como ficamos num hiker/biker site (para quem chega usando somente energia humana), eles colocaram pedras na entrada do nosso site para que não entrassem carros. Estávamos nos arrumando para mais um dia de pedaladas e começamos a chacoalhar a capa da barraca para escorrer a chuva da noite. Eu disse para o Fe: aqui tá caindo água nas nossas coisas, vamos mais para lá! E fomos indo, eu de costas, o Fe andando para frente. Já sabem o resto né? Cai com as pernas para cima, dei um mortal pela pedra e cai de costas no chão, ainda bem que nem deu tempo de gritar, senão a vergonha seria ainda maior =\.

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